"Com a maré da manhã surgiu no Céu uma Lua De lá desceu e fitou-me Como o falcão que arrebata o pássaro, Essa Lua agarrou-me e cruzou o Céu Quando olhei para mim, já não me vi Naquela Lua, meu Corpo se tornara por graça, Subtil como a Alma Viajei então, em estado de Alma E nada mais vi se não a Lua, até que o segredo do saber divino me foi por inteiro revelado As nove esferas celestes fundiram-se na Lua E o vaso do meu ser dissolveu-se inteiro no Mar Quando o Mar quebrou-se em ondas, A sabedoria divina lançou sua voz ao longe Assim tudo ocorreu, assim tudo foi feito Logo o Mar inundou-se de espuma E cada gota de espuma tomou forma e Corpo Ao receber o chamado do Mar Cada Corpo de espuma se desfez E tornou-se espírito no Oceano." Rumi
"Que me desculpem os desesperados, mas solidão é fundamental para viver. Sem ela não me ouço, não ouso, não me fortaleço. Sem ela me diluo, me disperso, me espelho nos outros, me esqueço. Não penso solto, não mato dragões, não acalanto a criança apavorada em mim, não aquieto meus pavores, meu medo de ser só. Sem ela sairei por aí, com olhos inquietos, caçando afeto, aceitando migalhas, confundindo estar cercada por pessoas, com ter amigos. Sem ela me manterei aturdida, ocupada, agendada só para driblar o tempo e não ter que me fazer companhia. Sem ela trairei meus desejos, rirei sem achar graça, endossarei ideias tolas só para não ter que me recolher e ouvir meus lamentos, meus sonhos adiados, meus dentes rangendo. Sem ela, e não por causa dela, trocarei beijos tristes e acordarei vazia em leitos áridos. Sem ela sairei de casa todos os dias e me afastarei de mim, me desconhecerei, me perderei. Solidão é o lugar onde encontro a mim mesma, de onde observo um jardim secreto